Por outro lado

Tudo tem, pelo menos, dois lados

O torcedor – por trás da carta novembro 5, 2007

Filed under: O lado da Vanessa — Vanessa Oliveira @ 12:21 am

Torcedor é um bicho engraçado, sabia? Com certeza, um prato cheio para um antropólogo, um psicólogo ou qualquer outro “ólogo” dessa vida. Não acredita? Então vá assistir um jogo e preste atenção na arquibancada e não no campo. Lógico, vá a uma partida que não te interesse, porque senão de observador você vai virar objeto de estudo. Há sempre um “ólogo” por aí. Acredite.

Para os jogadores, não há muita diferença entre um torcedor e outro. Tudo parece ser a mesma coisa: um grupo enorme de pessoas torcendo por eles. E só. Só? Estar a favor do time também significa esperar atitude, garra e determinação. Expectativa de quem os observa. E isso já é uma grande pressão. Convenhamos. Então fica aquela coisa… O time até gosta da torcida, é ela quem lhe dá apoio contra o adversário. No entanto, ao mesmo tempo não deixa de temê-la. Ninguém quer amarelar na vida. Ainda mais quando os holofotes estão apontados para apenas um lugar: o campo.

Tem torcedor que chega a insultar o próprio time. Fala mal de todos, critica a diretoria do clube, chama o técnico de burro e não o juiz. É cruel em seus julgamentos. E os jogadores ficam ali, sem entender. Afinal, isso é gostar? Isso é querer que o time vá para frente? Estranho jeito de amar, muitos pensam… O que não notam é que comportamento pode ser “pura jogada”. Se o torcedor provoca é porque ele quer uma reação! Ele quer que o jogador se sinta motivado a provar o contrário. E não o deixar mal. Quer dizer, só um pouquinho… Dor é necessário para crescer, né? Esse torcedor é do tipo que não gosta de passar a mão na cabeça porque acredita que assim deixará o time mal-acostumado. Psicologia inversa, sabe? Às vezes até funciona. Ele bem que tenta.                             

Tem torcedor que nem vai ao estádio. Prefere se ausentar. Acredita que faz tudo errado e que não dá sorte pro time. Ou então pensa as coisas mais absurdas como “Vamos ver como eles jogam sem mim”. Como se a presença dele no estádio fosse essencial para o gol. A questão é: falta ele perceber que tudo depende mais da vontade de ganhar do TIME, do que da dele. Nada vai adiantar se os jogadores não buscarem, realmente, o resultado.  

Tem torcedor que se agarra às simpatias. Faz promessa pra tudo quanto é santo e possui mil manias no decorrer do jogo. Não muda de posição quando o time está bem, veste a mesma roupa da última vitória para assistir à partida e não vai com o vizinho ao estádio porque ele é pé frio. Mantém a tradição e o ritual enquanto às vitórias vão acontecendo. É extremamente fiel e dedicado. Seu time, para ele, é quase uma religião. Agora, o interessante é quando ele se distrai e perde um lance importante. Pronto! Gol do adversário! É capaz de ficar se culpando… Se ele estivesse acompanhando seu time e rezando, vibrando pela equipe isso não teria acontecido. Pois é… Quebrou a corrente. 

Tem torcedor que fica calado. Sofrendo quieto, com os olhos grudados no campo. Acompanha cada lance. Levanta nos momentos importantes, senta de novo. Fica tenso. Mas não diz nada. Não acredita que seus gritos possam ajudar com alguma coisa. Na verdade, não acredita que ele possa mudar alguma coisa. Então ele fica ali. Quieto. Apenas observando e torcendo pela vitória. Ninguém sabe de sua existência. E a partida segue…

Já o tipo mais comum é aquele torcedor que grita, xinga, perde as estribeiras e a razão. Por pouco não bate na pessoa que está do lado. Fala cada bobagem… Torce pelo gol, pelo passe certo, mas faz isso de uma maneira tão agressiva que é capaz de assustar os jogadores e a bola. E ai de quem falar mal do atacante, do técnico ou até mesmo do gandula! Leva bronca pesada! Vira bicho por causa da sua equipe. Se colocasse um espelho na frente talvez nem se reconhecesse! Nesses casos, talvez seja melhor mesmo um aparelho de pressão para não deixar o coração apagar numa dessa. Nunca se sabe…

E por fim, tem aquele torcedor que é um pouco de tudo. Tem seus momentos, tem suas táticas. Simplesmente age de acordo com a situação. Pode falar mal, pode falar bem, pode virar as costas, pode apoiar, pode, inclusive, se ausentar por muito tempo. Vai de acordo com a maré e com seu humor. Quer dizer, na verdade, vai de acordo com a postura do outro. E o outro, nesse caso, nessa relação, é o seu time.

Paixão. Essa é a palavra que faz com que o torcedor saia do seu normal, que faz com que ele fale coisas ruins, perca o prumo e às vezes até a razão. Paixão. Essa é a palavra escondida atrás de cada grito, de cada “uuh!” quando a bola passa raspando pela trave, e de cada choro de desespero diante de uma derrota. Mesmo que esta não signifique o fim do campeonato. Paixão, somente ela explica, mesmo que não justifique certas atitudes do ser-humano. Que incrivelmente consegue até brigar com o outro, mesmo que esse outro esteja do seu lado. Paixão, que cega os envolvidos de um relacionamento, mesmo que este se estabeleça em um estádio. Time e torcedor – personagens principais do futebol e que, às vezes, não conseguem enxergar que ambos querem, na verdade, a mesma coisa: o gol.

 

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